"Talvez os lugares mais afastados e tranquilos sejam o ideal para os visitantes do Além. "

Esta história aconteceu há cerca de dez anos, no interior de Pernambuco.

Éramos um grupo de cerca de dez amigos que tínhamos estudado a vida inteira juntos. Quando concluímos o colegial, fomos estudar na capital e em outras cidades e nos separamos, mas sempre que havia um feriado voltávamos para a nossa cidade e nos encontrávamos.
Para passar mais tempo juntos, íamos sempre para a fazenda que pertencia ao pai de um de nós.

A fazenda ficava nos arredores de uma cidade vizinha, um local bastante ermo e à margem de uma rodovia federal. No dia em que aconteceu essa história chegamos lá bem cedo, como de costume.
A casa grande ficava um pouco distante da rodovia, e não havia nada por perto, exceto a casa do zelador, que ficava a alguma distância. Neste dia ele não estava, tinha ido à cidade.
A casa grande era uma construção muito simples, com uma grande escadaria na frente, porque embaixo ficavam os aposentos onde antigamente era a senzala. Essa parte tinha sido fechada com tijolos e ninguém entrava lá.

Passamos o dia tomando banho de rio, brincando, tocando violão, mexendo com as vacas, nos aventurando por dentro do mato no terreno da fazenda. Do meio para o fim da tarde voltamos para a casa grande para continuarmos nossas conversas e brincadeiras. A casa consistia numa grande varanda que percorria a casa pela frente e pelos lados, uma grande sala, um corredor e, no final deste, uma enorme sala de jantar ladeada por quatro quartos, sendo dois de cada lado. No final ficava a cozinha. Não havia área de serviço, porque atrás da cozinha o terreno era pedregoso, de difícil acesso e cheio de mandacarus e vegetação típica. Talvez a casa tenha sido colocada ali de propósito, por questões de segurança, por quem a construiu. Os dois lados e os fundos da cozinha ficavam impedidos por esse terreno acidentado.

O grupo se dividiu em dois: uma parte ficou num dos quartos vendo tv e conversando e o outro, no qual eu estava, foi para a cozinha matar a fome e o tempo. Num determinado momento, enquanto conversávamos, ouvimos um barulho numa das janelas da cozinha. Era como uma risada de criança e algo roçando a janela. Tomamos um susto, porque sabíamos que ninguém conseguia chegar à janela, por conta do terreno e dos mandacarus do lado de fora. Abrimos a janela e não vimos nada. Voltamos a fechá-la. Em alguns minutos o barulho se repetiu, só que dessa vez parecia que havia cerca de três vozes rindo baixinho, cochichando, e nem todas eram de criança.
Começamos a ficar meio assustados. Novamente abrimos a janela e não havia ninguém do lado de fora.

Sem parar para pensar no assunto, sugerimos que talvez nossos amigos que estavam no quarto tivessem saído da casa e estivessem nos pregando uma peça. Decidimos que da próxima vez que ouvíssemos o barulho um grupo correria até o quarto e o outro os esperaria na porta da frente da casa, para pegá-los em flagrante. Assim fizemos. Passados mais alguns minutos, novo barulho, só que desta vez um som aterrador: além das risadas, algo como um grunhido, ou como alguém com uma voz grave e muito rouca dando um gemido medonho. Além disso, uma coisa forçando a janela, como querendo abri-la.

Pulamos de nossas cadeiras e corremos, uns para o quarto e outros para a porta de entrada. Qual não foi o nosso pasmo quando encontramos nossos amigos tranqüilamente conversando no quarto, todos eles. Pânico total nessa hora. Contamos o que tinha acontecido. A princípio eles acharam que estávamos brincando, mas ao ver nossas caras de medo perceberam que a coisa era séria. Ficamos sem saber se saíamos da casa ou não. O sol já estava quase no fim, e só havia a última luz do dia do lado de fora, aquela hora do lusco-fusco. Por fim, os rapazes se juntaram e foram ver se havia algo fora da casa, mas só constataram que não havia nada e que era impossível atingir a janela da cozinha. Quando estavam voltando, ouviram atrás de si o som de risadinhas abafadas. Voltaram correndo para dentro da casa e contaram o que tinha ocorrido.

Nesse momento, o pânico realmente tomou conta de todos nós. Pegamos nossas coisas do jeito que estávamos, sem arrumar nada, e corremos para dentro dos carros para voltar para a cidade. Não sei se influenciados pelo medo ou não, mas quando deixávamos o terreno da fazenda, passando pela porteira, escutamos um assobio forte, uma coisa lúgubre, triste. Nunca mais voltamos ali. Até hoje não sabemos o que foi aquilo. Nossos encontros passaram a ser na cidade mesmo.

E você, retornaria à esse local para desvendar seus mistérios?

 

Maria - PE

BARULHOS ESTRANHOS NA FAZENDA

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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